Na Astrologia um grupo de
planetas, “descobertos” entre o final do século XVIII e início do século XX,
nos trazem a marca dos "novos tempos", são eles, Urano datado em 1781, apesar de
ter sido observado a olho nu na antiguidade, era tido como uma estrela, naquela
época por volta do século VI, Netuno de 1846 e Plutão de 1930. É evidência
histórica que o período que divide a temporalidade das experiências humanas
entre Medieval e Moderna se dá com a ascensão Iluminista do século XVIII, o fim
e o início de um novo período histórico coincide com a descoberta oficial de
Urano, em Astrologia estas sincronicidades nos dão os elementos interpretativos
de que precisamos para dar continuidade aos avanços desta linguagem dos céus.
Não à toa Urano tem sua simbologia ligada às rupturas.
Nos termos astrológicos
designamos estes três planetas como geracionais ou transaturninos, pois sua
ação é melhor sentida por grupos de pessoas nascidas em uma determinada época
(geração) e sua posição no firmamento está para lá de Saturno. Então para uma
melhor compreensão, voltemos ao tempo. No início da história da humanidade os
astros possibilitavam a contagem do tempo, a verificação dos períodos férteis,
às baixas e cheias dos rios, a repetição de ciclos que mais tarde denominamos
estações do ano, essas leituras do céu possibilitaram a agricultura e a
sedentarização, responsáveis pela manutenção da vida e sua progressão
civilizatória, bem tudo isso é astrologia.
A Lua e o Sol, foram os
primeiros marcos de tempo, principalmente nos períodos matriarcais isso há mais
de 10 mil anos a.C. O que verifica-se em comum, é que todos os aglomerados
humanos tribais tinham e tem sua cosmogonia própria. Mas voltemos a Astrologia
de que somos herdeiros, ela se concentra na Grécia no seu período clássico
conhecido como Helenístico, o “berço da civilização”, seu legado vai desde a filosofia,
matemática, medicina, astrologia/astronomia, e etc. Aqui a figura de Hiparco e
Ptolomeu, são os responsáveis pela medição dos céus. Os planetas que se
conheciam eram Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno e as luminárias Lua e
Sol. Estes sete corpos celestes foram e são a base da Astrologia, até o período
Medieval, sem contestações e sem alterações no seu uso. Mas eis que com o
advento da Idade Moderna emergem nos céus os transaturninos.
O Sol, a Lua, Mercúrio,
Vênus e Marte em uma perspectiva de análise simbólica astrológica representam a
pessoa, já Júpiter e Saturno representam a cultura ou sociedade de um
determinado tempo. Em linguagem astrológica de Sol até Marte temos os planetas
pessoais, e Júpiter e Saturno são os planetas sociais. O que os planetas
geracionais vem ativar são as necessidades transculturais, ou seja, as
rupturas, transcendências e transmutações. Mas como estes planetas podem ser
sentidos em uma perspectiva do mapa natal? Analisaremos a seguir. Por exemplo, a geração que tem Plutão em Libra,
é responsável por transmutar os comportamentos estagnados, rígidos, e passíveis
de corrupções das relações humanas, mas para isso cada indivíduo terá que
transmutar este padrão cristalizado em suas relações pessoais, ora o desafio
coletivo nos desafia na pessoalidade, sem isso permaneceremos na esfera de
Saturno, quer dizer que ao aceitarmos os desafios evolutivos dos geracionais,
podemos sair das estruturas criadas desde o avanço do Império Romano, com sua
ideologia e sistema patriarcal, que se desenvolveu até estes tempos pós
modernos.
Vejamos de forma sucinta
como as energias destes planetas agem no mapa natal. Urano rompe, Netuno transcende
e Plutão transmuta, são ações que desafiam o status quo (Saturno). Conhecemos e damos manutenção ao status quo (Saturno) através das expressões
dos sete planetas antigos, vejamos, o Sol manifesta, a Lua sente, Mercúrio
racionaliza, Marte aciona, Vênus deseja, Júpiter expande e Saturno restringe.
Temos um grande desafio ao aceitarmos a escola transaturnina, pois ela está
para a mudança total de um padrão para outro. Em termos históricos verifiquem as
mudanças de milênio e podem perceber como são perturbadoramente desafiantes
estes períodos.
Então vamos ao exercício da
compreensão astrológica, Urano vem romper os assuntos da casa natal que ele
ocupa e essa ruptura tanto melhor será se for criativa. Os assuntos de Urano
são ativados pelos trânsitos, e os mais fortes são a quadratura que ele faz
consigo mesmo aos 21 anos, a oposição aos 39, 42 anos, outra quadratura aos 63
anos, e seu retorno é aos 84 anos. Então nestes períodos há um chamado para abrir
novos caminhos. Netuno vem transcender os assuntos da casa natal que ele se
encontra, sua ativação por trânsito se dá mais intensamente com sua quadratura
consigo mesmo aos 42 anos, neste momento é mais intensa a necessidade de
ultrapassar um estágio para outro, ou seja, ampliar os limites dos assuntos da
casa em que Netuno se apresente. Plutão vem transmutar os desígnios da casa em
que se encontra no momento de nascimento. O único aspecto que Plutão faz a si
mesmo é a quadratura, mas por sua órbita ser excêntrica, pode variar em que
época da vida ela ocorrerá, algumas gerações tiveram essa quadratura por volta
dos 50 anos enquanto outras por volta dos 30 anos. De qualquer forma Plutão
exige uma mudança de um ponto a outro, algo morre para algo nascer.
Muitas outras coisas
influenciam as questões dos geracionais na natalidade, como a retrogradação, os
aspectos com outros planetas, o trânsito por casas, mas são assuntos para outra
escrita. Por ora, encaramos a responsabilidade de se aprofundar na reflexão que
questiona onde estão os pontos que ligam os indivíduos à manutenção das tradições
e também à possibilidade de novas estruturas sócio/culturais. Na História trabalhamos
com o uso da memória coletiva, muito utilizada pelo historiador contemporâneo
Peirre Nora. Com base nesta memória coletiva, identificamos como as tradições
vão se amalgamando em sistemas complexos da sociedade, e como cada indivíduo é
afetado em sua personalidade por essa memória coletiva, sua individualidade
está impregnada do todo social (Júpiter/Saturno). Mas essa memória coletiva não
é estanque (Saturno), ela se faz e refaz conforme as necessidades das lembranças,
dos pertencimentos, da preservação ou da construção das identidades sejam elas
de estados nacionais, de grupos coletivos, comunidades ou mesmo do sujeito
ensimesmado. As questões de transformações históricas e dos planetas
geracionais são estreitas, cada um de nós é um agente transformador dessa
espiral de vida. Assumir essa responsabilidade é a questão posta para nossa
geração.
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