sábado, 18 de agosto de 2018

Romper, transcender e transmutar

Na Astrologia um grupo de planetas, “descobertos” entre o final do século XVIII e início do século XX, nos trazem a marca dos "novos tempos", são eles, Urano datado em 1781, apesar de ter sido observado a olho nu na antiguidade, era tido como uma estrela, naquela época por volta do século VI, Netuno de 1846 e Plutão de 1930. É evidência histórica que o período que divide a temporalidade das experiências humanas entre Medieval e Moderna se dá com a ascensão Iluminista do século XVIII, o fim e o início de um novo período histórico coincide com a descoberta oficial de Urano, em Astrologia estas sincronicidades nos dão os elementos interpretativos de que precisamos para dar continuidade aos avanços desta linguagem dos céus. Não à toa Urano tem sua simbologia ligada às rupturas.
Nos termos astrológicos designamos estes três planetas como geracionais ou transaturninos, pois sua ação é melhor sentida por grupos de pessoas nascidas em uma determinada época (geração) e sua posição no firmamento está para lá de Saturno. Então para uma melhor compreensão, voltemos ao tempo. No início da história da humanidade os astros possibilitavam a contagem do tempo, a verificação dos períodos férteis, às baixas e cheias dos rios, a repetição de ciclos que mais tarde denominamos estações do ano, essas leituras do céu possibilitaram a agricultura e a sedentarização, responsáveis pela manutenção da vida e sua progressão civilizatória, bem tudo isso é astrologia.
A Lua e o Sol, foram os primeiros marcos de tempo, principalmente nos períodos matriarcais isso há mais de 10 mil anos a.C. O que verifica-se em comum, é que todos os aglomerados humanos tribais tinham e tem sua cosmogonia própria. Mas voltemos a Astrologia de que somos herdeiros, ela se concentra na Grécia no seu período clássico conhecido como Helenístico, o “berço da civilização”, seu legado vai desde a filosofia, matemática, medicina, astrologia/astronomia, e etc. Aqui a figura de Hiparco e Ptolomeu, são os responsáveis pela medição dos céus. Os planetas que se conheciam eram Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno e as luminárias Lua e Sol. Estes sete corpos celestes foram e são a base da Astrologia, até o período Medieval, sem contestações e sem alterações no seu uso. Mas eis que com o advento da Idade Moderna emergem nos céus os transaturninos.
O Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus e Marte em uma perspectiva de análise simbólica astrológica representam a pessoa, já Júpiter e Saturno representam a cultura ou sociedade de um determinado tempo. Em linguagem astrológica de Sol até Marte temos os planetas pessoais, e Júpiter e Saturno são os planetas sociais. O que os planetas geracionais vem ativar são as necessidades transculturais, ou seja, as rupturas, transcendências e transmutações. Mas como estes planetas podem ser sentidos em uma perspectiva do mapa natal? Analisaremos a seguir.  Por exemplo, a geração que tem Plutão em Libra, é responsável por transmutar os comportamentos estagnados, rígidos, e passíveis de corrupções das relações humanas, mas para isso cada indivíduo terá que transmutar este padrão cristalizado em suas relações pessoais, ora o desafio coletivo nos desafia na pessoalidade, sem isso permaneceremos na esfera de Saturno, quer dizer que ao aceitarmos os desafios evolutivos dos geracionais, podemos sair das estruturas criadas desde o avanço do Império Romano, com sua ideologia e sistema patriarcal, que se desenvolveu até estes tempos pós modernos.
Vejamos de forma sucinta como as energias destes planetas agem no mapa natal. Urano rompe, Netuno transcende e Plutão transmuta, são ações que desafiam o status quo (Saturno). Conhecemos e damos manutenção ao status quo (Saturno) através das expressões dos sete planetas antigos, vejamos, o Sol manifesta, a Lua sente, Mercúrio racionaliza, Marte aciona, Vênus deseja, Júpiter expande e Saturno restringe. Temos um grande desafio ao aceitarmos a escola transaturnina, pois ela está para a mudança total de um padrão para outro. Em termos históricos verifiquem as mudanças de milênio e podem perceber como são perturbadoramente desafiantes estes períodos.
Então vamos ao exercício da compreensão astrológica, Urano vem romper os assuntos da casa natal que ele ocupa e essa ruptura tanto melhor será se for criativa. Os assuntos de Urano são ativados pelos trânsitos, e os mais fortes são a quadratura que ele faz consigo mesmo aos 21 anos, a oposição aos 39, 42 anos, outra quadratura aos 63 anos, e seu retorno é aos 84 anos. Então nestes períodos há um chamado para abrir novos caminhos. Netuno vem transcender os assuntos da casa natal que ele se encontra, sua ativação por trânsito se dá mais intensamente com sua quadratura consigo mesmo aos 42 anos, neste momento é mais intensa a necessidade de ultrapassar um estágio para outro, ou seja, ampliar os limites dos assuntos da casa em que Netuno se apresente. Plutão vem transmutar os desígnios da casa em que se encontra no momento de nascimento. O único aspecto que Plutão faz a si mesmo é a quadratura, mas por sua órbita ser excêntrica, pode variar em que época da vida ela ocorrerá, algumas gerações tiveram essa quadratura por volta dos 50 anos enquanto outras por volta dos 30 anos. De qualquer forma Plutão exige uma mudança de um ponto a outro, algo morre para algo nascer.
Muitas outras coisas influenciam as questões dos geracionais na natalidade, como a retrogradação, os aspectos com outros planetas, o trânsito por casas, mas são assuntos para outra escrita. Por ora, encaramos a responsabilidade de se aprofundar na reflexão que questiona onde estão os pontos que ligam os indivíduos à manutenção das tradições e também à possibilidade de novas estruturas sócio/culturais. Na História trabalhamos com o uso da memória coletiva, muito utilizada pelo historiador contemporâneo Peirre Nora. Com base nesta memória coletiva, identificamos como as tradições vão se amalgamando em sistemas complexos da sociedade, e como cada indivíduo é afetado em sua personalidade por essa memória coletiva, sua individualidade está impregnada do todo social (Júpiter/Saturno). Mas essa memória coletiva não é estanque (Saturno), ela se faz e refaz conforme as necessidades das lembranças, dos pertencimentos, da preservação ou da construção das identidades sejam elas de estados nacionais, de grupos coletivos, comunidades ou mesmo do sujeito ensimesmado. As questões de transformações históricas e dos planetas geracionais são estreitas, cada um de nós é um agente transformador dessa espiral de vida. Assumir essa responsabilidade é a questão posta para nossa geração.   
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domingo, 22 de julho de 2018

Vênus!


Por aqui já falei de Vênus, mas sob um aspecto historiográfico, e hoje quero falar da delícia do amor venusiano, de erotismo, de beleza, de sensação.
Em Astrologia o planeta Vênus é o regente dos signos de Touro e Libra, no primeiro manifesta a sensualidade e no segundo a harmonia. Afrodite, a Deusa do amor, para os gregos, é a personificação da beleza que estimula os sentidos, a ponto de querer consumar o amor no ato sexual. Afrodite, apesar de ser casada, tinha incontáveis amantes, tanto deuses como humanos. Amor e erotismo faziam parte de seus atributos, é a beleza colocada em prol dos sentidos. É a manifestação do prazer.
Touro é o primeiro signo da tríplice da Terra, seu movimento é fixo, dá forma e estabilidade à matéria, então a beleza de Vênus encontra um corpo para encarnar, sentir, ter e dar prazer. Um corpo que pode ser apreciado por sua beleza física. Se formos um pouco mais a fundo nos mitos de criação, veremos que Deus fez o homem/mulher do barro, à sua imagem e semelhança. Nada mais divino que a beleza terrestre, que aqui nesse mito podemos remeter à Touro/Vênus, e por curiosidade, Touro foi o primeiro signo zodiacal, lá nos primórdios da humanidade a 4 mil ou 3 mil anos atrás. Touro é a estabilidade da primavera, e que estação do ano mais linda ein? É a vida em flor!
Libra é o segundo signo da tríplice do Ar, seu movimento é cardinal, trás o princípio da harmonia nas relações humanas. Em sua origem, está relacionada com o início do outono, o equinócio, em que o dia e a noite são iguais, época em que a amenidade do clima encontra a força para se preparar para a total renovação, que virá no inverno. Aqui Vênus astrológica dá aos homens e mulheres a oportunidade de terem relações uns com os outros, de se entreterem com a sociabilidade, é a oportunidade de apreciar um belo quadro, se encantar com a música, dançar à vida. É o flerte, o namoro, o encantamento da poesia.
Vênus foi colocada como regente da casa 5, isso lá no medievo, tendo por princípio os seus antepassados da antiguidade, os caldeus, que viveram na Mesopotâmia, estes desenvolveram uma ordem planetária que hoje é conhecida como ordem caldeia ou caldaica, mas o que nos interessa é que Vênus como regente tradicional da casa 5, mostra mais uma vez seu dom para as relações pessoais, sendo que na casa 5, temos nosso primeiro contato com o prazer e com a criação, e aqui encontramos o outro no sexo, e podemos gerar outro ser humano, é a criação em plena forma e alegria.
Vênus quer o conforto, o que é bom e gostoso (Touro), Vênus quer atenção, refinamento nas relações (Libra). Mas e quando Vênus se encontra em outros signos, ela tem que se adequar a energia deles para poder gozar de seus atributos, alguns serão receptivos, com por exemplo Vênus no signo de Peixes, em que se sente exaltada, tendendo a ampliar suas qualidades, mas quando em queda no signo de Virgem, essa Vênus tende a se tornar mais reprimida no que confere à lasciva. Para saber como Vênus astrológica atua na sua vida é necessária a leitura do mapa, tendo em vista os aspectos planetários que ela faz a outros planetas, qual signo está, e em que casa atua.  
Vênus ama os prazeres, ama o amor, é amor. A face erótica do amor. Ela sabe brincar, jogar e se jogar quando apaixonada. Vênus é o arquétipo do sagrado feminino. Não se envergonha e nem se escandaliza, causa vergonha e escândalo onde falta o amor. Por isso quando Vênus estiver aflita no mapa, trate de desenvolver o amor, primeiro o próprio e depois vá amar aos outros e a tudo que tiver centelha de vida, somos frutos desse ato, somos filhos e filhas da Deusa!


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nota 1 : as estações do ano em Astrologia tem como marco o hemisfério norte, por questões tradicionais os signos no hemisfério sul adotam toda a mitologia envolta nesses arquétipos primordiais.
nota 2: texto em possível construção!

segunda-feira, 9 de julho de 2018

A máquina e a emoção: desejos e Lua


O ser humano individualizado vive sua vida de acordo com as experiências que tem, isto é, é capaz de fazer escolhas, e ser responsável pelas consequências, ele se conscientiza de seu lugar no tempo da experiência. Aqui nessa esfera não englobo a humanidade inteira, pois existem diferentes níveis de  evolução humana. Mas a nossa sociedade ocidental é em sua maioria formada por seres individualizados, que se reconhecem enquanto sujeitos de suas histórias de vidas, logo se responsabilizam, ou não. A esfera que ainda não se individualizou, está geralmente integrada em sistemas sociais onde a ordem de um grupo se sobressai ao indivíduo, assim são as comunidades tribais que ainda se fundam em castas. “É privilégio do homem individualizar-se e destacar-se do rebanho, da tribo, da comunidade sócio-religiosa em que nasceu. É privilégio do homem sentir-se “separado” como um “eu”, um ego que tem características ímpares. Esse é seu privilégio e esse é seu fardo trágico, ou sua responsabilidade. Isso faz dele um deus ou um demônio.” (Dane Rudhyar)
Esse privilégio da espécie humana, essa individuação de que já falava o astrólogo Dane Rudhyar, no seu aspecto trágico cria redes de bloqueios e prisões emocionais, ora, não esqueçamos que este indivíduo que saltou fora da manada, há fez em um meio social, mais amplo, dando origem ao homem moderno e sua cultura capitalista, esse ser individual necessita de alguma forma se adequar para ser absorvido pela experiência moderna, esse fato se iniciou por volta do século XIX.
É comum deixar para depois às necessidades profundas pra atendermos aos desejos efêmeros do ego que surgem em ondas regidas pelo momento, são “ondas consumistas”, que tem um investimento midiático/psicológico forte para manter os desejos e capitais acesos. Atente que é diferente viver o agora e viver para satisfazer os desejos do agora, para viver o agora basta estarmos presente no que estamos fazendo, atentos, por assim dizer em estado de meditação, relaxados, seja lavando uma louça, ou administrando uma multinacional, aqui temos nossa individualidade integrada dentro do universo holístico, no segundo caso, quando estamos envolvidos em satisfazer os desejos que emergem, vivemos como analisa os filósofos Deleuze e Guattari , tal qual “máquinas desejantes” isto é, num sistema de interferências, de engrenagens ou rizomas, que ligam indivíduos e sociedade, em outro ponto temos Foucault, que nos empresta sua visão acerca da modernidade e da complexidade que o poder exerce sobre os indivíduos ao controlar politicamente e moralmente corpos (Foucault) e desejos (Deleuze e Guatarri). As vidas individuais quando transformadas em máquinas desejantes estão submetidas à máquina estatal/econômica capitalista, não somos mais um “Eu” de desejos próprios ou de anti-desejos, mas um produto ou máquina desse tempo, no qual mecanismos de poderes nos atravessam, desde a família (casa 4), às parcerias (casa 7) e o cume do sucesso ou fracasso social (casa 10).
Quando ficamos limitados ao capitalismo nossos desejos não são somente de foro íntimo, eles são construídos por meio dos estímulos externos, das vivências com o meio, assim desejos são construídos e inventados dentro das individualidades que irão reprimi-los ou não, e no entanto seja qual for a escolha ela estará imbuída em capital e isso forjará uma escala de valores dentro do sistema das máquinas desejantes, na qual culpabilizações ou gestos hedonistas se criam em escala crescente, onde lucram desde as psiquiatrias até lojas de suvenires.
O Estado nega o poder de vida ou de morte à decisão do sujeito, a doença e a saúde são ferramentas institucionais e produtoras de lucro, a subjetivação capitalística destes fatores da vida, entram em conflito com nossa natureza, o capitalismo tem o dom de nos deixar perplexos com nossa humanidade e de uma forma demasiado infantilizados, sedentos por prazer instantâneo, para talvez mascarar a dor das enfermidades humanas no mundo, e não pensar profundamente como cada ser se tornou coautor da realidade mundial tal qual é, tendo o poder financeiro como centro de comando e decisões que concerne a vidas e suas ações. Transformamos em tabus a sexualidade e suas variadas formas de expressão (casa 8), compartimentando um mundo de significados e significantes de natureza profunda, vital, em máquinas com suas peças bem separadas e ordenadas tal como as peças erotizadas, sensualizadas, pornográficas, disfuncionais e patológicas, normas de um sexo saudável e normatizado numa visão reducionista de heterossexualismo, ditames de uma conduta pautada numa moral de matriz cristã no qual se impregnou no corpo uma sensação de culpa ao se permitir prazer e mais nada, ou a  negação dele, ou ainda o que sai da matriz cartesiana da heteronormatividade pode cair com facilidade nas malhas dos fomentadores de patologias e suas diversas neuroses. 
Para mantermos as engrenagens dessas máquinas foi necessário que os conflitos, as vontades e potencias fossem relegados ao ostracismo interno (subconsciente / casa 12), aqui surge o terreno fértil para emergirem os bloqueios e as prisões emocionais, ora, máquinas desejantes são os “corpos sem órgãos” de Deleuze e Guattari  e aqui os sentimentos e emocionalismos são transformados em produtos do capital, ou seja, doenças e transtornos que a psiquiatria ou as religiões tendem a resolver, intermediando sujeitos com uma ordem que tem o poder de cura ou de escolha.
A autonomia individual só é possível quando nos damos conta desses emaranhados sociais que nos envolvem, e que nos fazem querer, desejar, assim atuando na manutenção do status quo, mesmo que de forma inconsciente. A Lua astrológica não se agrada de forma alguma com esse quadro, então se frustra, retêm energia afetuosa e nutridora, assim os caminhos para relações saudáveis se veem bloqueados, dando margem à estagnação. Essas máquinas desejantes ou esses corpos bloqueados, criam para si (casa 1) e para o grupo (casa 11), estruturas de dependência, desde a infância, quando a criança se esforça para ser aceita e amada, primeiro pela família (casa 4) e depois pelo entorno (casa 3), seu desenvolvimento criativo (casa 5) pode precisar de escape, e o sistema capitalista lhes servirá com diversões, prazeres que envolvam riscos, o uso de drogas, do álcool, as recreações artificiais promotoras de prazeres.
A consciência dessas estruturas sociais e suas relações astrais nos permitem ir ao encontro desse emocional reprimido, por satisfazer o ego pessoal, quando em relação ao ego social ou super ego. Aqui há uma fissura, um quase vácuo, mas criador de uma obscuridade ou sombra, que a Lua sente, introjeta, mascara e devolve ao exterior por meio de síndromes, complexos, vícios e conflitos. Essa carência emocional afeta nossa noção de valor (Vênus / Casa 2), pois as águas emocionais represadas encontram afinidade com valores negativos e atuais da cultura e da moral capitalista, atuam em dramas, encontram o pecado da culpa e o sentimento da vergonha, e muitas vezes quando identificados não conseguem ser expressos e invadem o ser e vão minando-o de dentro para fora e de fora para dentro. Uma espécie de sístole-diástole socioindividual.
Assim, trago essa reflexão para irmos ao canto escuro da alma, que só uma Lua iluminada de Sol é capaz de encarar, deixando às máscaras sociais para lá. Uma leitura astral é uma possibilidade de encontro com o humano em nós. As máquinas da engrenagem precisam de um coração, de água, de Lua e de emoção fluindo. Para isso é quase certo que iremos à margem do status quo, coragem, afeto e companheiros de caminho são importantes nesse despertar das máquinas. Então, vamos destravar essa represa presa no peito? Chamo de amor.



segunda-feira, 2 de julho de 2018

Qual é o seu norte?


A Astrologia é um campo que relaciona símbolos, arquétipos, elementos da natureza, posições planetárias, entre outros fatores astrais, e cada elemento desses são regidos pelas forças temporais, isto é, pelas tradições culturais que uma determinada sociedade possui. Estudar as diferenças históricas de cada sociedade nos faz compreender como a utilização da Astrologia mudou no correr dos séculos, e que fazer anacronismos não nos favorece.  
Formar uma consciência histórica é poder nos colocar no presente como indivíduos, e sermos capazes de irmos ao passado e nos projetar no futuro, sem lançar culpas ou vitimismos, pois se tem o entendimento da experimentação humana em seus diferentes tempos e seu desenvolvimento. As memórias passadas (Lua) nos mostram possibilidades para o futuro e o presente, se nos colocarmos enquanto participantes da História. O que ocorreu e ainda ocorre, é a colocação passiva de sermos apenas o resultado de um passado remoto, que nem nos lembramos mais, falas como: “a corrupção é assim mesmo, desde que o mundo é  mundo”, “as mulheres não querem direitos iguais,então por que a Lei Maria da Penha?”, “os negros tem cotas, isso é racismo reverso?”, aqui são alguns pontos para pensarmos essa dissociação temporal, existe uma generalização que obscurece a razão e a consciência, quando falo em consciência histórica, termo utilizado pelo historiador Jörn Rüsen, falo dessa separação temporal que muitas pessoas vivenciam, se colocando à parte do todo. E o que isso tem haver com a Astrologia?
Diante de meus estudos astrais, tive uma sensação de que uma consciência histórica tem uma relação com os Nodos Lunares. Os nodos não são planetas, não são visíveis, eles são pontos demarcados da intersecção da passagem da Lua pela Terra, quando passa pela eclíptica do Sol.  Nosso passado histórico também é demarcado, no tempo, em uma trajetória que a humanidade caminhou, e assim podemos nos posicionar no presente enquanto sujeitos históricos capazes de fazer mudanças visando um futuro, um lugar que queiramos chegar, sem apenas sermos arrastados pelas circunstâncias inerentes à história da humanidade, seria pegar nossa vida nas mãos e fazermos os ajustes pertinentes ou não, mas termos a consciência disso, e não relegar ao passado os infortúnios do presente, com “mas sempre foi assim”.  Os nodos lunares existem em eixo de oposição, dualidade, vida, morte, passado, futuro, e a pessoa encarnada vive no presente, lidando com ambas as energias, passado e futuro, o passado enquanto apego ou descanso e o futuro enquanto anseio e projeções, todavia o que se faz no presente? Muitas vezes, se culpa, olha lá de novo “por que sempre foi assim”... É uma ladainha que invade muitos de nós, sem nem nos percebermos.
Os Nodos Lunares são, o nodo norte ou cabeça do dragão, e o nodo sul, a cauda do dragão, o primeiro nos diz para onde devemos ir e o segundo de onde viemos. A cauda do dragão representa o passado, nossa vida uterina, ou ainda uma arraigada forma de viver que se tornaram obsoletas e nos acompanham entre várias vidas, já a cabeça do dragão é o norte que nos diz para onde devemos ir, são aquelas experiências que ainda não vivemos, mas que quando damos passos rumo à ela temos satisfação, pois abre-se novas experiências e oportunidades. Mas o passado não deve ser abandonado, ignorado, o uso dele é para nos preparar para um futuro mais íntegro, completo, e como estamos falando em polaridades, quando fixamos em apenas uma, há o enrijecimento e a estagnação. Aqui nesse eixo temos uma tensão das forças lunares do passado e das solares representando nosso futuro, que são vivenciadas na Terra. Para haver a união do ser entre seu passado e para aonde deve ir, a pessoa que quer se melhorar deve encontrar seu ponto de equilíbrio, muito provavelmente o ponto do Ascendente trás essa resposta, já que é a meta e o caminho a seguir. (saber sobre ascendente ver aqui:http://trigonosastrais.blogspot.com/2017/06/o-presente-e-o-ascendente.html )
Os nodos devem ser analisados tendo em vista todo o mapa astral, seu posicionamento por signo é geracional e por casa é individual. No nodo sul, temos um porto que por vezes não é muito seguro, e no norte temos uma sensação de estar sem chão, mas quando damos o primeiro passo já sentimos chão sob nossos pés, mas a estrada é longa e deve ser seguida passo a passo, firmando um caminho para si, novo até então, mas atentos, por que o canto da sereia (nodo sul) tá sempre aí pra nos seduzir.
Para concluir que já falei demais, propus essa relação entre consciência histórica e os Nodos Lunares, pois ambos trazem do passado o conhecimento necessário para um presente e um futuro melhorados, eu sou uma ser humana em busca de melhoramentos, rsrsrs, e tendo em vista que o nodo lunar percorre um mesmo signo durante mais ou menos um ano e meio, seu trabalho age num determinado grupo, em várias almas com um enfoque comum, assim também são as construções históricas nas quais muitos indivíduos estão envolvidos, e estiveram, e aqui nos dois casos a Lua nossa mestre do passado que através de suas memórias nos faz sermos o presente do agora, e esse agora pode ser novo, renovado ou apenas um rascunho caótico de um passado que aparentemente não nos pertence, porém que nos amarra na inconsciência de dias coletivos, esses muitas vezes carregados de sofrimentos, pois não nos atrevemos à mudança dos polos, e assim quase impossível o equilíbrio do meio.
E como ir ao encontro do nosso norte? Como sermos sujeitos históricos conscientes do tempo e espaço que ocupamos? As culturas e tradições que estamos envolvidos nos dizem respeito ou são estranhas a nós? Aceitamos o inadequado, mas posto secularmente? Rejeitamos o novo, apenas por medo? Ou será que há mais verdades do que nos contam os livros de História e os antigos manuais da tradição astral? Mas queremos as verdades ou o descanso no conforto de “sempre foi assim”? Eu não sei as respostas, mas tenho tantas perguntas...  
 E então, qual é o seu norte?

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