O
ser humano individualizado vive sua vida de acordo com as experiências que tem,
isto é, é capaz de fazer escolhas, e ser responsável pelas consequências, ele
se conscientiza de seu lugar no tempo da experiência. Aqui nessa esfera não
englobo a humanidade inteira, pois existem diferentes níveis de evolução humana. Mas a nossa sociedade
ocidental é em sua maioria formada por seres individualizados, que se
reconhecem enquanto sujeitos de suas histórias de vidas, logo se responsabilizam,
ou não. A esfera que ainda não se individualizou, está geralmente integrada em
sistemas sociais onde a ordem de um grupo se sobressai ao indivíduo, assim são
as comunidades tribais que ainda se fundam em castas. “É privilégio do homem
individualizar-se e destacar-se do rebanho, da tribo, da comunidade
sócio-religiosa em que nasceu. É privilégio do homem sentir-se “separado” como
um “eu”, um ego que tem características ímpares. Esse é seu privilégio e esse é
seu fardo trágico, ou sua responsabilidade. Isso faz dele um deus ou um
demônio.” (Dane Rudhyar)
Esse
privilégio da espécie humana, essa individuação de que já falava o astrólogo Dane
Rudhyar, no seu aspecto trágico cria redes de bloqueios e prisões emocionais,
ora, não esqueçamos que este indivíduo que saltou fora da manada, há fez em um meio
social, mais amplo, dando origem ao homem moderno e sua cultura capitalista,
esse ser individual necessita de alguma forma se adequar para ser absorvido
pela experiência moderna, esse fato se iniciou por volta do século XIX.
É comum
deixar para depois às necessidades profundas pra atendermos aos desejos
efêmeros do ego que surgem em ondas regidas pelo momento, são “ondas
consumistas”, que tem um investimento midiático/psicológico forte para manter
os desejos e capitais acesos. Atente que é diferente viver o agora e viver para
satisfazer os desejos do agora, para viver o agora basta estarmos presente no
que estamos fazendo, atentos, por assim dizer em estado de meditação,
relaxados, seja lavando uma louça, ou administrando uma multinacional, aqui temos
nossa individualidade integrada dentro do universo holístico, no segundo caso,
quando estamos envolvidos em satisfazer os desejos que emergem, vivemos como
analisa os filósofos Deleuze e Guattari , tal qual “máquinas desejantes” isto é, num sistema de interferências, de engrenagens ou rizomas, que ligam indivíduos
e sociedade, em outro ponto temos Foucault, que nos empresta sua visão acerca
da modernidade e da complexidade que o poder exerce sobre os indivíduos ao
controlar politicamente e moralmente corpos (Foucault) e desejos (Deleuze e
Guatarri). As vidas individuais quando transformadas em máquinas desejantes
estão submetidas à máquina estatal/econômica capitalista, não somos mais um “Eu”
de desejos próprios ou de anti-desejos, mas um produto ou máquina desse tempo,
no qual mecanismos de poderes nos atravessam, desde a família (casa 4), às
parcerias (casa 7) e o cume do sucesso ou fracasso social (casa 10).
Quando
ficamos limitados ao capitalismo nossos desejos não são somente de foro íntimo,
eles são construídos por meio dos estímulos externos, das vivências com o meio,
assim desejos são construídos e inventados dentro das individualidades que irão
reprimi-los ou não, e no entanto seja qual for a escolha ela estará imbuída em
capital e isso forjará uma escala de valores dentro do sistema das máquinas
desejantes, na qual culpabilizações ou gestos hedonistas se criam em escala
crescente, onde lucram desde as psiquiatrias até lojas de suvenires.
O
Estado nega o poder de vida ou de morte à decisão do sujeito, a doença e a
saúde são ferramentas institucionais e produtoras de lucro, a subjetivação
capitalística destes fatores da vida, entram em conflito com nossa natureza, o
capitalismo tem o dom de nos deixar perplexos com nossa humanidade e de uma
forma demasiado infantilizados, sedentos por prazer instantâneo, para talvez
mascarar a dor das enfermidades humanas no mundo, e não pensar profundamente
como cada ser se tornou coautor da realidade mundial tal qual é, tendo o poder
financeiro como centro de comando e decisões que concerne a vidas e suas ações.
Transformamos em tabus a sexualidade e suas variadas formas de expressão (casa
8), compartimentando um mundo de significados e significantes de natureza
profunda, vital, em máquinas com suas peças bem separadas e ordenadas tal como
as peças erotizadas, sensualizadas, pornográficas, disfuncionais e patológicas,
normas de um sexo saudável e normatizado numa visão reducionista de
heterossexualismo, ditames de uma conduta pautada numa moral de matriz cristã
no qual se impregnou no corpo uma sensação de culpa ao se permitir prazer e
mais nada, ou a negação dele, ou ainda o
que sai da matriz cartesiana da heteronormatividade pode cair com facilidade
nas malhas dos fomentadores de patologias e suas diversas neuroses.
Para
mantermos as engrenagens dessas máquinas foi necessário que os conflitos, as
vontades e potencias fossem relegados ao ostracismo interno (subconsciente /
casa 12), aqui surge o terreno fértil para emergirem os bloqueios e as prisões
emocionais, ora, máquinas desejantes são os “corpos sem órgãos” de Deleuze e
Guattari e aqui os sentimentos e emocionalismos
são transformados em produtos do capital, ou seja, doenças e transtornos que a
psiquiatria ou as religiões tendem a resolver, intermediando sujeitos com uma
ordem que tem o poder de cura ou de escolha.
A
autonomia individual só é possível quando nos damos conta desses emaranhados
sociais que nos envolvem, e que nos fazem querer, desejar, assim atuando na
manutenção do status quo, mesmo que
de forma inconsciente. A Lua astrológica não se agrada de forma alguma com esse
quadro, então se frustra, retêm energia afetuosa e nutridora, assim os caminhos
para relações saudáveis se veem bloqueados, dando margem à estagnação. Essas
máquinas desejantes ou esses corpos bloqueados, criam para si (casa 1) e para o
grupo (casa 11), estruturas de dependência, desde a infância, quando a criança
se esforça para ser aceita e amada, primeiro pela família (casa 4) e depois pelo
entorno (casa 3), seu desenvolvimento criativo (casa 5) pode precisar de
escape, e o sistema capitalista lhes servirá com diversões, prazeres que envolvam
riscos, o uso de drogas, do álcool, as recreações artificiais promotoras de
prazeres.
A
consciência dessas estruturas sociais e suas relações astrais nos permitem ir
ao encontro desse emocional reprimido, por satisfazer o ego pessoal, quando em
relação ao ego social ou super ego. Aqui há uma fissura, um quase vácuo, mas
criador de uma obscuridade ou sombra, que a Lua sente, introjeta, mascara e
devolve ao exterior por meio de síndromes, complexos, vícios e conflitos. Essa
carência emocional afeta nossa noção de valor (Vênus / Casa 2), pois as águas
emocionais represadas encontram afinidade com valores negativos e atuais da
cultura e da moral capitalista, atuam em dramas, encontram o pecado da culpa e
o sentimento da vergonha, e muitas vezes quando identificados não conseguem ser
expressos e invadem o ser e vão minando-o de dentro para fora e de fora para
dentro. Uma espécie de sístole-diástole socioindividual.
Assim,
trago essa reflexão para irmos ao canto escuro da alma, que só uma Lua iluminada
de Sol é capaz de encarar, deixando às máscaras sociais para lá. Uma leitura
astral é uma possibilidade de encontro com o humano em nós. As máquinas da
engrenagem precisam de um coração, de água, de Lua e de emoção fluindo. Para
isso é quase certo que iremos à margem do status
quo, coragem, afeto e companheiros de caminho são importantes nesse
despertar das máquinas. Então, vamos destravar essa represa presa no peito?
Chamo de amor.
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